Para minha sorte, consigo encontrar um graveto restante entre o que foi a fogueira da última noite. Por mais que não fosse muito, poderia me garantir a sobrevivência se utilizado corretamente, o mantendo em minha mão direita por hora.

Olhando a minha volta, mal paro um segundo para pensar no que fazer, seguindo em frente e ignorando qualquer outro caminho a minha volta, visto que naquela floresta, o que reinava era apenas o instinto, o mais forte. Não era necessário pensar, somente fazer. Somente sobreviver.

Me movo após soltar um suspiro de cansaço, não físico, mas sim mental. Locomovendo lentamente para que o barulho de meus passos não atraia inimigos, assim como economize minhas energias, me permito utilizar os sentidos da audição para tentar identificar corretamente o que estava ocorrendo a minha volta, enquanto com os da visão, foco a minha frente para observar o horizonte florestal.

O luar começa a surgir no céu, substituindo a luz do sol e permitindo a noite crescer em meio a escuridão, mas isso não importava para min, dia ou noite, a sobrevivência, continuava a mesma. Mas antes que pudesse continuar olhando acima para observar o astro lunar, uma bifurcação surge a minha frente, que sem sequer parar para pensar:

"I going left." - Disse em minha mente, seguindo em frente pelo caminho que se formava a direita, não parando um segundo para observar os detalhes entre os dois, visto que não importava, ambos dariam em perigo, ambos dariam em floresta, ambos dariam em morte.

Não tem por que perder tempo pensando em qual seria melhor, vou deixar o instinto guiar o meu caminho floresta adentro. Com passos vagarosos e pesados, parto a frente, utilizando da audição e visão para detectar o que estava a minha volta durante este.

"Humans... They probably don't understand me, i don't even know what language they talk.. Well, they don't look strong enough to make a threat." - Penso brevemente sobre o fato de que aqueles humanos, mesmo que se tornassem agressivos pela falta de comunicação, pareciam não oferecer qualquer ameaça significativa para que causasse preocupação.

Mas bom, por que ir no vilarejo? Sinceramente não sei, contudo, não tenho nada melhor do que fazer e certamente entre animais que não consigo entender e que com certeza vão me atacar na floresta e animais que não consigo entender que talvez não me ataquem, creio que aqui tenho uma maior chance de sobrevivência.

Começo a andar na direção do vilarejo, calmamente como antes, olhando ao redor para ver que tipos de defesas ou perigos eles poderiam me oferecer caso se tornassem agressivos por causa de algo.

"A church? They believe in God just like my parents?" - O meu interesse é realçado por uma lembrança do passado, algo que parecia ser uma igreja, semelhante as que já vi quando ainda estava em casa, meus pais sempre falavam sobre ela e como Deus era importante.

Começo a me mover na direção da mesma, queria saber do se se tratava, ignorando todas as outras opções, visto que somente iriam me exigir uma comunicação que não possuo no momento. Ou será que alguém sabe falar inglês aqui? Bom, não importa muito, a igreja já se espalhou por todo meu pensamento, não conseguia visualizar mais as outras opções. ☼

Conforme me aproximo vagarosamente da igreja, observo levemente a vila ao meu redor, contudo, sem muito interesse propriamente dito, voltando a focar minha atenção sobre o estabelecimento religioso a minha frente. Ao diminuir a distancia entre nós mais um pouco, antes que pudesse continuar, avisto uma figura, que por mais que já tenha visto de tudo entre meus anos sobrevivendo na floresta, ainda assim, aquilo ativava meu instinto de perigo levemente.

Ele era maior e seus cabelos eram pretos, todavia, isso não importava para mim, visto que sobrevive entre bichos maiores antes de crescer e me tornar maiores que eles, o que importava, eram suas mãos, avermelhadas como o sangue...

"Is he a enemy? He kill'd someone and now is looking at me, probably i'am a witness and he will come to me. I hate not being able to comunicate..." - Penso dentre minha mente, sobre o fato de que ele poderia tentar me matar por conta da minha inabilidade comunicativa e o fato de provavelmente ser uma testemunha de seja lá o que ele fez, porém, eu queria entrar na igreja.

Começo a me mover novamente, indo em direção da igreja, enquanto olho na direção da figura, observando seus movimentos, somente por precaução caso receba um movimento ofensivo vindo de sua parte.

Assim que percebo a presença do homem se esvaindo conforme adentro o local, paro antes de completar minha entrada, tentando pegar o pano que este jogará contra o solo, no intuito de verificar qual era o conteúdo daquilo, visto que eu poderia facilmente ser culpado por algo que ocorreu na igreja, sem nem mesmo ter esado ali anteriormente.

Ao pegar o pano, primeiro o visualizo e depois o cheiro, com a intenção de verificar do que se tratava. Caso mesmo assim não fosse possível para mim saber o que era aquilo avermelhado, começo a lamber o tecido na parte avermelhada para sentir o gosto, mas de uma coisa eu sabia: Não importava o que era ou se eu nunca senti aquele sabor. O importante era não ser sangue.

Enquanto realizo essa ação, fico com a minha audição completamente voltada para o arredor, principalmente na direção das minhas costas, para caso o misterioso homem, resolva voltar para um ataque, por mais que na minha visão, ele não teria motivos para tal.

"Crap." - Penso em minha mente, exclamando o fato do gosto metálico que aquilo tinha, extremamente parecido com sangue. Tinha que sair dali antes que eu fosse culpado de seja lá o que ocorreu ali dentro, a última coisa que eu precisava era confusão sem nem ao menos poder me explicar... Ou... a pessoa ainda poderia estar viva? Ou estou imaginando coisas? Será que devo entrar? Ou não?

Suspirando prologadamente enquanto observo o local a minha frente, jogo o pano no solo, me movimentando igreja a dentro. Esqueci do meu principal motivo: Ver a igreja. Não importa o que acontecer, todos os caminhos são ruins e como na floresta, é sempre melhor agir em seu instinto, do que permanecer eternamente pensando em meio a uma dúvida, que deliberadamente levaria a duas ou mais opções possivelmente pior do que essa.

Por algum motivo, a porta se fecha, mas isso não era um problema no momento, visto que minha intenção atual era permanecer no local e observa-lo, esse problema só iria importar quando tivesse que sair daqui... Por tanto, relevando esse fato, volto minha atenção para o restante.

O local era certamente bonito e seu tapete que adornava o solo era magnifico, contudo, a vista daquilo que provavelmente era a representação de deus, me intrigava. Eles acreditam em outra coisa? Talvez não seja o tipo de igreja ao qual me lembre no meu pais, muito menos por conta do altar de pedra, ao qual elevava levemente a estranheza no ambiente.

Assim que avisto os pés próximos ao altar enquanto analisava os arredores, ouço o som de um suspiro, me virando em direção da onde percebo a origem do som, todavia, ao me virar, levando minha guarda, colocando as mãos em frente ao queixo como forma de defesa... ou melhor: precaução.

O suspiro veio de minha frente, na direção do altar... Não entendi bem o que estava acontecendo, mas decido seguir em frente. Com passos vagarosos e precisos, começo a andar na direção do altar, utilizando minha audição para que o silencio se tornasse meu aliado: Qualquer movimento de um possível ataque surpresa poderia ser percebido com facilidade.

Continuo me movimentando em direção ao altar, contudo, levemente inclinado para direita, para que eu tenha visão melhor do que está ao lado do altar, antes mesmo de chegar muito perto do mesmo. Não sabia o que ocorreria ali, mas de certo modo, minha curiosidade era atiçada fortemente.