Abandono - Coleta de Ervas, Haise

O extenso e verdejante campo a sua frente não permitia erros quanto a sua localização, em pouco tempo alcançara os primeiros domínios onde seu objetivo de maneira mais abundante poderia ser encontrado, seus conhecimentos sobre o campo de herbalismo são pífios, quando em treinamento mal sabia diferenciar as ervas curativas colocadas sobre suas feridas, da erva doce colocada sobre a mesa na forma de chá, para desencargo de consciência pelo menos uma técnica simplória, porém efetiva caso um pouco mais de atenção fosse depositada, fora ensinada pelo mestre doutrinador durante um dos momentos que fora pai e mãe.


Dessa forma com seus olhos voltados para a vegetação rasteira, Haise que levava tal tarefa tão a sério quanto se estivesse encarregado do assassinato de um tirano, tentava diferenciar as tantas plantas que encontrava por ali dispostas ao solo, quando achava uma que ao seu julgamento parecia diferenciada da grama dominante, se abaixava colhia a pretendida e com as pastilhas de cura em domínio da outra mão fazia uma rápida análise, cheiro, coloração e em último caso — apenas com a erva selvagem para poupar recursos — textura quando passada em uma superfície como um pedaço de madeira ou semelhante. O perímetro parecia incrivelmente abrangente e os arredores ainda mais, sendo assim não insistiria tanto por ali caso notasse constante semelhança entre os elementos encontrados, provavelmente teria que se aprofundar mais na mata fechada, e seria esse seu próximo passo, sempre adotando pela sagacidade, precisão e elegância em seus suaves movimentos, exatamente como diz o manual do shinobi.

Como imaginado a falta de grandeza no objetivo da tarefa não a tornava algo fácil, talvez até mesmo a deficiência em conhecimentos voltados a flora nativa de Utakata já estivesse sendo um peso, e nem mesmo chegara a tal conclusão, seja como for ainda que durante um breve período, suas tentativas quanto a análise feita sobre as plantas não parecia caminhar de maneira evolutiva, para ser sincero no único momento que sentia estar seguindo uma dinâmica efetiva fora no instante que se deparara com uma planta mais rústica, diferente de qualquer outro elemento encontrado até então, olhando de longe parecia até mesmo um fungo como um cogumelo ou algo do tipo, mas quando enfim estava prestes a tocar a mesma surpreendera-se, essa nada mais era do que um sapo, pobre animal, provavelmente só estaria a procura de um pouco de paz. — Oh! Ora, ora... Perdoe-me pequenino. - Cordialmente se desculpava pelo incomodo trazido ao pequeno verruguento, sem querer incomoda-lo ainda mais dava prosseguimento à sua tarefa.


A calmaria do cenário enganava aos que escolhiam ainda que sem perceber se cegar pela situação, os anos de treinamento chegaram ao fim e a partir daquele trabalho tudo estava condicionado a acontecer de maneira natural e inesperada, não teria tempo para aperfeiçoar aquilo no que falhara caso o erro causasse o fim de sua vida, as coisas são mais palpáveis agora e sempre causadoras de reações das mais diversas, por isso ainda que não tivesse escolha a não ser adentrar a mata fechada, teria que proceder com cautela e atenção acima de tudo. Dessa forma, ciente dos perigos e atraído pelo chamado da aventura, Haise expandiria sua busca aos arredores dos longos campos verdejantes, observaria atentamente buscando uma rota de carroça ou até mesmo rastro civíl que lhe parecesse rumar as áreas de vegetação mais selvagem, sabia que encontrar uma pequena estrada de terra, independente da qualidade de sua estrutura a aquela altura traria mais prós do que contras, é claro que ladrões de beira de estrada se aproveitam de lugares como esse para conseguirem aplicar seus atos criminosos, mas com esse tipo de gente Haise sabe bem como lidar — e por experiência própria, também como se misturar — por conta dos valores das atuais variáveis, o rapaz se via certo em manter seu plano levando sua exploração a um patamar mais elevado.

Destreza, sabedoria, técnicas ancestrais... O leque de habilidades e capacidades de um shinobi completo assim como qualquer outro indivíduo que almeja a perfeição é bastante extenso, o próprio Asuka Akino insistia em sua metodologia de treinamento de dez anos — a nível de iniciação, diga-se de passagem — justamente para que essas bases estejam inegavelmente fixadas no indivíduo doutrinado, porém tão importante quanto todos esses campos está um "sétimo elemento", a sorte, muitos shinobi são contra a menção dessa quando indagados sobre as qualidades necessárias de um mestre do ninshu, Haise fazia parte desse grupo, mas também sabia que um pouco de sorte não traria mal algum, muito pelo contrário, na hora certa pode ser a luz ao fim do túnel. A ambientação a qual estava imerso sutilmente abandonava o ar mais charmoso e acolhedor dos extensos campos verdejantes, dando lugar a um cenário frio, pobre em luz solar e consideravelmente menos agradável, a mata fechada parecia receber o ninja em seus primeiros domínios, esse por sua vez mantivera-se alerta e em silêncio constante a cada passo dado e perímetro ganho meio a vegetação selvagem, cara fechada era a única coisa que oferecia até que a tal sorte, tão desprezada entre os membros do clã Asuka lhe presenteara. "— Hmm? Hae hae, ai está você." - Pensava consigo mesmo após o processo de análise definido ao início da tarefa, sequer precisara esfregar a planta sobre uma superfície qualquer, aquela sem dúvida era uma das ervas a qual buscava.


Ainda era cedo demais para dizer que a maré mudara, tanto positiva quanto negativamente, entretanto fato era que sua decisão quanto a mudança de local de busca já surtira algum efeito, parado sob a sombra interminável produzida pela copa fechada das árvores ele observava aos arredores, logo a sua frente uma nova rota se pré-dispunha a ser explorada, encararia bem o trajeto enquanto lhe fosse permitido pelo limite de visibilidade, fora ali que encontrara o primeiro exemplar da erva curativa que ficara encarregado de levar até os superiores Uchiha, logo era esse o caminho mais sensato a ser seguido, sensato, se era seguro ou não ai já era outra história. Seja como for, sem tempo para cerimônias ou cordialidades de sua parte fora o tal novo caminho o escolhido como rota exploratória, claro mantendo sempre a cautela excessiva que tanto lhe fora ensinada e até reensinada quando falhara, pelo sensei, figura de respeito e admiração a qual dedicava sua honra e seriedade imposta sobre a missão.

A incessante calmaria envolvia uma boa dose de mistério ao pretexto por um todo, afinal a problematização encima da busca de recursos não era a única a ser depositada atenção, por mais que sua caminhada procedia em uma possível via reconhecida, a mata fechada pode sempre ser um empecilho diverso, seja pelos animais ou pela simples imensidão que confunde aos menos habituados, Haise respeitava a atual conjuntura dos fatores não fazendo pouco da situação, mas também não escondia a ansiedade quanto a ação, não aperfeiçoara apenas a porção mental e espiritual, o físico do rapaz também evoluira, e era justamente essa confiança quanto ao desenvolvimento que o possibilitava desejar uma resposta a altura de sua invasão.


Se o desejo era de uma reviravolta inesperada, o destino irônico em sua prontidão colocava diante do shinobi aquilo que poderia vir a ser o primeiro empecilho ativo em sua tarefa, de início nada mais que um ruído originário da esquerda em relação a posição de Haise, a falta de visibilidade meio a vegetação comprometia qualquer conclusão pelo pouco tempo que se dispusera a observar, esse pequeno espaço de tempo servira unicamente para checar se o sujeito que fizera o barulho rumava em direção da estrada de pedra ou se debatia-se meio aos arbustos, independente da conclusão o shinobi que até então acreditava ter mantido a leveza de seus passos a todo instante julgava ter o fator surpresa ao seu lado, sendo assim voltando sua atenção para o canteiro direito da estrada ele observava se o mesmo era passível de ser utilizado como um esconderijo, não precisava ser perfeito, apenas com vegetação o bastante para que o verde de suas roupas se misturasse ao verde da natureza, posicionado apoiado sobre um dos joelhos agachado em meio a vegetação aguardava por possíveis novos sons vindos do perímetro esquerdo, a erva por hora solitária que acabara de colher fora gentilmente guardada dentro da pochete de couro posicionada sobre a lateral direita do quadril, após o depósito sua mão suavemente deslizara até a lombar chegando a empunhadura da Wakizashi que tambem recebera dos aliados Uchiha, a lamina da mesma ainda não era exposta, apenas se certificava de que conseguiria manter a vantagem por qual trabalhara até então.