Finalizado - O Informante

Nada demais acontecia.

Ambos ali apenas conversa.

Num conseguia ouvir direito, pois tanto barulhos atrapalhavam o que queria ouvir, afinal os sons se misturavam

O sujeito pelo cheiro e roupas era alguém talvez do campo ou que lidava com animais como porcos e galinhas, onde a sujeira e podridão estavam presente.

O breu começava. Era um horário que desgostava muito, pois a iluminação estava em constante alteração. Como se ligasse uma lamparina e não precisasse e se ficasse sem, parecia um pouco escuro.

Quando menos esperava uma criança vem até mim se refugindo de seus perseguidores. Ao vê-lo já ficava irritada. Achava que eu era o quê? Sua fortaleza particular? Pensou errado.

Antes que sequer o homem se aproximasse o suficiente ou que terminasse de falar suas palavras, minha mão já se encontrava no topo da cabeça da criança, recheando-a com seus cabelos. Puxei logo a seguir para frente com força de maneira brusca, colocando o pé na frente para que tropeçasse quando ia avançando em busca de equilíbrio e perdesse de vez a chance de conseguir ficar de pé. Assim que fosse ao chão estirada e assim que ouvia as palavras do desconhecido, apenas resmunguei.

━ Como ousa tocar em meu kimono com essas mãos sujas? Não traga seus problemas para desconhecidos. Se não consegue roubar sem ser pego, nem tente, criatura imunda ━ Voltava meus olhos para o perseguidor da criança ━ Quanto a você... Faça o que quiser com este tolo. Bata, mate-o ou... Estupre. É todo seu, tenho mais o que fazer do que ficar cuidando de pirralhos melequentos.

Neste instante via o ferreiro que ia seguindo seu rumo. O mesmo fiz eu assim que terminei meu sermão. Fui atrás de Seiji a uma boa distância para que não me notasse e que eu não o perdesse de vista. Vejamos até onde iria.

Estava tudo tranquilo.

Ia seguindo conforme pretendia.

No entanto, ouvi algo rápido se aproximando.

Nunca imaginaria que aquela maldita criança tornaria a me causar problemas.

Quando menos se esperava, tomei um bofetão na lateral da cabeça que me deixou zonza. Até mesmo cai pela força bruta usada.

━ Mas que porra é essa? Gr...

Ouvia as mentiras da criança para aquela estúpida mulher que era facilmente manipulável por ela. Da para acreditar que pensei que essa burra era a informante? Pior, a principal suspeita. Que ódio.

Mais um golpe me acerta. Agora na região do estomago. O ar se torna difícil por alguns segundos e sinto minha energia se desvencilhar de mim. Músculos no lugar do cérebro. Ela realmente estava no cargo que merecia.

A mulher se retirava e fui levantando com uma expressão caótica. Visualizava tudo que aconteceu e apenas raiva tomava conta de mim. Meus olhos se preenchiam com fúria. A missão teria que pausar, pois havia perdido o rastro de todos e à aquela cadela não seria fácil de dialogar agora.

━ Tempo perdido. Tudo por causa de um filhote de bosta.

Me acalmei um pouco e pensei com mais racionalidade. Lembrei o que ela fez minutos atrás. Puxei a parte do kimono que ela teria tocado e comecei a farejar. Sentia seu cheiro singular e agora poderia seguir um rastro. Embora estivesse escuro, jamais iria conseguir disfarçar seu aroma.

Seguiria a trilha do cheiro da criança. Iria procura-la. Ficaria atenta à segui-la sem à guarda me observar caso estivesse por perto ainda.

Partir sem olhar para trás.

Até mesmo perdi algo.

Quer dizer, não notei um envelope caído.

Talvez fosse minha chance de finalizar a missão. Mas o baque que tomei me impediu de pensar direito.

A vingança corroendo minha alma era prioridade agora.

Segui e encontrei a criança. Em meio a outros humanos. Teria que aguardar pacientemente. Uma preza seria abatida com estrategia e calma.

Aguardaria de longe, observando os demais. Esperaria a criança ir embora e então a seguiria sorrateiramente sem que ninguém me notasse. Se conseguisse uma oportunidade em alguma lugar isolado e sem testemunhas, abordaria a criança por trás tapando sua boca e ameaçando a mesma com minha katana em seu pescoço.

━ Se tentar fugir ou gritar, corto sua garganta aqui e agora!

Levaria para um lugar ainda mais calmo quando o merdinha ficasse quieto.

Continuei andando.

O cheiro sumia por alguns instantes.

Outro surgia. Até mesmo Satoru. Passei por ele apressada.

━ Estou na caça, depois nos falamos!

Fui avançando farejando de volta o aroma da criança. Não ia escapar.

O cheiro some.

Talvez tenha perdido o rastro de vez.

O homem insiste em papear.

━ É a forma mais fácil de achar alguém!

Obviamente né. Mas alguém insistia em não deixar eu continuar minha perseguição.

━ Ainda está bebendo? Vai acabar abrindo falência por beber tudo. Aliás, viu aquela guarda por aqui novamente? Sujeitinha irritante ela.

Se nada de novo ele tivesse a falar, seguiria rumo a loja do ferreiro novamente. Iria recomeçar de onde tinha parado.

Ele trata de me acompanhar.

Não era bem a companhia que queria agora

De qualquer forma não atrasei meu ritmo acelerado.

Se ele quisesse me ir junto, que mantivesse minha velocidade para andar que era um pouco apressada.

━ Para o outro lado? Bom saber, assim aquela sujeitinha não me perturba novamente. E caso não tenha notado, é até o local de trabalho dele que estou seguindo. Perdi o rastro dele por lá e retornarei para tentar encontrar de volta.

Sem perder mais tempo fui seguindo o caminho. Ignorando as nojeira que Satoru costumava fazer toda hora.

Satoru parecia querer me acompanhar.

Me questionava sobre a caçada.

Talvez fosse uma boa ideia?

Não sabia responde-lo. Porém, o que mais eu poderia fazer?

━ Não importa muita se está fechada. Basta a maneira certa de rastrea-lo.

Segui adiante enquanto ele ficava para trás. Um guarda surgia. Cruzei com o mesmo dando uma rápida olhada de canto de olho. Continuei. Pude ouvir o taverneiro falar o nome dele.

Droga. Aquilo me paralisou por alguns instantes. Olhei para trás.

━ O que eu faço?

Retornei até Satoru devagar tentando ouvir a conversa deles sem que o guarda me notasse. Quando não fosse mais possível andar vagarosamente e chegasse até eles, falaria qualquer coisa pra me intrometer na conversa.

━ Satoru-san... Esqueci de lhe perguntar algo.

Não falaria o que. Esperaria o bêbado me incluir na conversa. Quem sabe apresentar-me ao guarda e quem sabe uma prosa iniciar ali mesmo.

Me aproximei como queria.

Satoru estava chapadão.

Mas ainda não havia perdido a razão.

O guarda ao notar-me não demorava em tentar sacar sua arma. Mas tolo seria ele imaginar que estaria vivo caso fosse alguém tentando esfaqueá-lo.

━ Sim, retornei.

Deixava Satoru fazer sua parte. Tudo ia bem naturalmente.

━ Hihi, Satoru-san está sendo modesto ━ Mostrava minha face mais gentil ━ Então és um guarda, hã? Trabalha para Ryuzaki-dono então. Parece que somos companheiros de trabalhos já que servimos à mesma pessoa ━ Ia criando um ambiente de familiaridade ao citar o trabalho que tínhamos algo em comum. Isso criaria uma ponte entre nós de "confiança" ━ Desculpe, acabei ouvindo a conversa antes de chegar e ouvi sobre sua filha. Muito corajoso servi ao exército enquanto tem uma filha para cuidar. Por acaso vocês vivem juntos?

Trabalhava aquele dialogo de maneira que a suposta "pergunta" nunca viesse atona de fato e precisasse me preocupar apenas com meu objetivo de arrancar informações do guarda para descartar ou não ele da lista de suspeitos.

Aparentemente fisguei o homem.

Sua atenção voltava-se para mim.

Notei a forma que me olhava.

Exalava desejos carnais. Já era de se esperar, afinal sou um pedaço de mal caminho. Quem diria que aquela pobre e frágil kitsune que fora uma escrava, cresceria tão bem?

━ Trabalho diretamente para Ryuzaki-Dono. Ele pede algo e eu o faço.

Respondi observando suas ações. Eram características de quem passava muito tempo em pé e realizava atos para desestressar à falta do que fazer.

━ Veio para cá? Então quer dizer que não é nativo dessa região. Entendo... E como faz para se comunicar com a família? ━ Fazia minha jogada para começar a descobrir algumas informações ━ Pergunto, pois queria poder dar notícias a entes queridos e como sou nova no vilarejo, ainda não sei os métodos utilizados ━ Era hora de mais uma cartada ━ Pensei em escrever uma carta, mas não sei como faria para enviar. Na verdade, sou ruim com as palavras também. Não tenho uma boa referência em quais usar.

Finalizava com aquelas palavras. Minha intensão era simples. Queria saber como ele enviava as cartas dele para a filha. Dessa forma descobriria como ele enviava informação, caso fosse o culpado.

Deixava uma brecha para que ele mesmo me ajudasse a escrever uma carta de maneira que ele me mostrasse o que escrevia para a filha. Assim eu saberia se de fato ele era apenas um guarda com saudade da filha ou um traidor.

━ Bem, gosto de andar a noite. Sou uma raposa noturna e com dificuldade para dormir. Gosto de vim aqui na taverna do Satoru-san, também. E bem... Conhecer à aldeia em seu horário mais escuro é um hábito meu quando estou em um lugar novo. As coisas mudam muito do dia para noite e estar preparada para todas as realidades é sempre muito bom ━ Soltava um sorrisinho de forma que demostrava sinceridade ━ Mas claro, hihi. Ryuzaki já me pediu para realizar uma coisa ou outra.

Ele respondia as perguntas.

Estava acostumado a enviar cartas, afinal.

Me contou os tipos que utilizava.

Foi quando eu pensei...

" Que tipo de ave sabe onde fica a casa dele se não for uma própria? "

Aquilo era suspeito. Mantive o sorriso e a compostura. As coisas fluíam interessantemente.

━ O que vier a cabeça? Talvez de certo. O problema é as ideias surgiram quando posso escrever à carta.

Foi quando ele começou a mexer em suas coisas. Pude observar o que tinha dentro e um símbolo chamava minha atenção em uma das cartas. Era bastante familiar.

O guarda mostrava uma carta para mim como referência. Comecei a ler em voz alta para ele saber que de fato estava executando a leitura.

━ Nhaaa... Que bonito o amor paternal. Pena que ela não possa ler suas mensagens ainda. Certamente deve estar ansiosa. Só espero que ela não pense que aconteceu algo de ruim, caso o fluxo de cartas tenha diminuído muito.

É, cada vez ficava mais inclinada à pensar que ele poderia ser meu alvo. Ryuzaki era exigente? Não sei, estava a pouco dias a seu mando. Contudo, era um exército poderoso e tinha muitos homens. O suficiente para o restante descansar enquanto outros trabalham. Por alguma razão ele trabalhava mais do que devia. Durante esse horário fica mais fácil ver contatos que não devia. Além do tempo negativo até pra falar com a suposta filha. E aquela marca...

━ É isso! ━ Acabava por exclamar em voz alta quando lembrava o que representava. O clã  Senju na qual já conheci alguns escravos no passado ━ Hihi, lendo sua carta, acabei ficando um pouco inspirada a escrever uma. Acho que irei para casa afim de registrar tudo que imaginei, antes que esqueça, haha.

Comecei a contornar o guarda e em seguida disse... ━ Satoru-san, leve ele para tomar uma dose do seu melhor sake por minha conta, certo? Um guarda tão dedicado merece um agrado uma vez ou outra. Depois lhe pago, preciso ir agora ━ Mantive-me sempre bem agradável e sem exageros. Esperaria Satoru convidar o sujeito a entrar e então seguiria meu rumo quando eles estivesse porta a dentro.

Uma vez sozinha (ou não), rumaria para o castelo onde Ryuzaki estaria. Mesmo que o guarda das cartas não fosse o culpado, não seria um problema realizarem ao menos uma checagem das suspeitas, pois um prova que poderia incrimina-lo, existia.

Quando chegasse no castelo, não perderia tempo e iria até os aposentos na qual o Ryuzaki estaria para lhe notificar.