Finalizado - Doce Vingança

━ Hum...

Não era uma arqueira atoa.

Pois acertei na mosca.

Eram as mercadorias do fornecedor de escravas.

Gordo que nem uma mula. Quer dizer, isso é uma ofensa as mulas. Aquele escroto faltava artifícios para compara-lo de tão seboso que devia ser.

Sério, odeio pessoas flácidas. Ocupam muito espaço, fedem e suam muito. Costumam ser peludos e nojentos. Mal conseguem correr 30 segundos. Comem que nem porcos. É terrível.

Foquei-me no que fazia. O samurai escoltando era um problema. Esperava que a arquitetura daquele castelo me ajudasse no decorrer que avançava.

Subia até o terceiro andar olhando para os caminhos que podia seguir e tentando visualizar onde a comitiva iria adentrar. Uma coisa era certa. As meretrizes iriam ficar no palácio.

O terceiro andar era estranho.

Possuía somente um cômodo?

Um baita voltão era necessário para chegar até o local.

Pra ficar pior o samurai ficou plantando na porta. Aquilo dificultava as coisas.

━ Hum...

Observava os hábitos de vigia do sujeito. Provavelmente estaria apenas cumprindo rotina. Jamais iria esperar um ataque interno assim do nada. Ainda mais por supostas meras vagabundas. Contudo, ele se mantinha olhando para parede. Se eu avançasse do jeito que estava, ele notaria antes de eu alcança-lo e seria um problema. Aquilo requeria uma medida distrativa.

" Minhas moedas. "

Não tão minhas, já que assaltei o armário de um azarado defunto. Talvez fosse outro. Enfim, era hora da ação.

Retirava uma moeda entre tantas outras que haviam guardadas comigo. Analisei o ambiente melhor. A altura do local e profundidade do corredor. Para minha sorte era acesso que rumavam sempre a esquerda. Por isso a cada esquina das paredes a primeira parte a ficar de frente aos acessos, era meu lado direito do corpo. Como uma destra que era, tinha minha melhor mão para fazer um lançamento simples sem ter que me revelar muito afim de abrir espaço para o braço esquerdo.

Esperei o momento ideal em que ele não estivesse demonstrando olhar para a direita dele e então arremessaria a moeda para o fundo do corredor por cima do mesmo. Quando a moeda caísse no chão ou atingisse a parede, seja qual fosse a camada sólida, o suave ruído do metal atiçaria seus instintos ou sua curiosidade para o local na qual foi emitido tão característica sonora que era bem familiar para qualquer pessoa que um dia teve contato com dinheiro metálico.

Neste instante que ele abrisse sua guarda olhado para o fundo do corredor, ficando sem qualquer visão periférica lateral e talvez até ficando de costas para mim, correria rapidamente na pontinha dos pés tentando não causar sons chamativos. Com a katana em mãos seguraria firme para apunha-lar seu coração. Uma vez que tivesse penetrado o homem (ui), levaria minha mão esquerda por baixo de sua axila indo em direção a sua boca para tampa-la e evitar qualquer grito. Quanto a direita. Seguraria na outra axila após soltar o cabo da espada.

Se executado com sucesso o assassinato daquele sujeito, tentaria coloca-lo no chão com cuidado e puxar para a ponta sem saída do corredor. Caso minha força fosse insuficiente para arrastar aquilo, me fazendo cansar atoa. Deixaria onde estava, tomando cuidado apenas para deita-lo. Acabaria servindo como armadilha se alguém saísse daquele cômodo.

Um instante para o caos.

Em 1 ou 2 segundos toda merda acontecia.

A tensão era alta.

Admito, realizar uma façanha com uma arma que não tenho costume é um problema. Um grande problema.

Consegui avançar quase como eu queria. A ansiedade me fez cometer um erro (ansiedade, sei). Entretanto, a lâmina perfurou o homem querendo ou não. Naquele corredor sem ter para onde esquivar, ele teria que ser intangível para escapar.

O sangue sujava o chão e respigava em mim provavelmente. Não dava para saber, pois o golpe que tomei no nariz me fez virar o rosto pelo contato.

━ Grrrr...

Sentia um embaralho pela dor. Coisa momentânea. Como eu não sangrava, não teria vazamento nasal. Ser uma raposa tinha lá suas vantagens. E os humanos se achavam superiores. Idiotas.

Nosso duelo se iniciava. A ferida dele era feia. O sangue não parava de sair. Entendia que não demoraria para suas forças se esvaírem. No entanto, ele ainda se mantinha em pé e sacava sua espada. Notava uma coisa quando ele teria puxado a mesma. Era igual a que tinha encontrando antes. Era menor em tamanho, o que me dava vantagem em distância. Usaria aquilo ao meu favor.

Havia também o fato da dor que inibiria parte de seus movimentos. Não acreditava muito que já teria efeito da adrenalina para lhe fornecer um auxílio insano diante da morte. Como eu guiaria aquela luta eu ainda não sabia. Só sei que tinha que pensar logo, afinal ele se aproximava.

Segurava a katana com ambas as mãos. Ficava atenta a espada dele. Eu tinha velocidade e poderia usar isso também. Como uma raposa eu também teria meus instintos animalescos ao meu lado. Por mais que não estivesse em meu auge naquilo.

Foi então que tive a ideia. Ele está irritado e querendo vingança. A dor deve ser tão insuportável que não deve estar pensando direito. Irei esperar ele atacar primeiro e então surpreenderei ele.

Eis a minha tática. Posicionada e atenta a seu avanço, observaria bem quando ele movimentasse seu corpo para pegar impulso e embalo afim de projetar sua lâmina contra mim. Assim que recuasse o braço para tentar me atingir, estaria abrindo uma grande brecha em um curto intervalo de tempo. Neste instante eu avançaria com toda minha velocidade pela esquerda dele para ganhar mais distancia do golpe dele. Como eu estaria ao lado da parede, existia a chance dele acabar acertando a parede, errando o ataque e me dando mais chance de sucesso.

Enquanto passasse por ele, deslizaria minha katana pelo que encontrasse de corpo. Se fosse necessário, até mesmo percorreria meio abaixada na hora de tentar golpear ele antes afim de não acabar levando um corte também. Era meio arriscado, mas teria que apostar tudo na velocidade.

Sim, eu era uma vadia.

E para ter o bel prazer da minha atenção custava caro.

O preço? Sua vida. E no caso daquele samurai. A honra.

Observava com todo meu desprezo o homem agoniar no chão.

Enquanto ele ficava estirado no chão sem conseguir se mexer, não consegui conter a mudança em meu semblante. Um sorriso tomava forma e a expressão de tesão ficava estampada. Mordiscava os lábios aproveitando aquela cena e deslizava minha mão esquerda até minha virilha percorrendo para o centro da coxa, realizando uma pressão na extremidade. Aquilo era realmente prazeroso.

Me aproximei do mesmo com cuidado. Com a katana ia perfurando vagarosamente o crânio do mesmo e pondo um fim a sua vida medíocre. Ficava com os ouvidos atentos ao que poderia estar ocorrendo ali dentro. Rapidamente me abaixava e pegava a Wakizashi do samurai. Ambas as espadas podiam ser usadas por uma mão. Sabia que havia dois ali dentro. Talvez fosse bom manter duas armas usáveis naquela ocasião específica.

━ Hum...

Observava a porta e se ela se moveria. Não adentraria agora. Sim. Entrar agora seria um erro. Ficaria para o lado do corredor que acabava. Manteria a katana erguida em direção ao centro da porta. Se alguém abrisse ela e fosse um dos homens, avançaria levando a lâmina até seu pescoço, o rendendo.

Mas sinceramente eu torcia para que ninguém tivesse notado o ocorrido fora do cômodo e seguissem com a reunião normalmente. Desejava ouvir sem maiores problemas o que eles tinham a dizer.

━ Estranho.

Sussurrei. Algo de errado não estava certo.

Se estivessem lá dentro, estaria esperando por mim?

Ou... Mais passagens e acessos? Não duvido. Aquilo era um labirinto.

Me afastei da porta o máximo que dava. Erguia a katana enfiava ela na fissura que dividia ela para ser aberta. Ficava de lado fora da vista da abertura. Vai que tinha alguém armado. Era bom evitar. Contudo, iria abrindo a porta aos poucos buscando encontrar alguém. Se não tivesse ninguém. Adentraria em busca de onde poderiam ter ido.

Já teve uma sensação doida?

Eu já, inclusive tive uma agora.

Assim que abri a porta, minha mente vislumbrava coisas.

Era uma bagunça e por um instante fiquei confusa. Que diabos foi aquilo?

━ Uma ilusão.

Cogitei, uma vez que era versada na área, quer dizer, seguia os passos de sacerdotisa. Mas o problema era apenas um. Não durou mais que aquele meio segundo. Era estranho. Mordia um pouco minha língua causando certa dor para ver se era alguma ilusão de fato. Mesmo achando que não era.

O cheiro era real  demais e a sensação de vazio que vinha ao observar as pilhas de cinzas, era um tanto... Conflitantes. O sujeito sentado parecia ter sido o autor daquilo. Me enchia de ódio por ter chegado até aqui e uma das fontes de informações ter virado pó.

Fixei minha visão no sujeito e comecei a caminhar com passos suaves sem fazer barulho. Ia me aproximando dele sem me intimidar. Segurava as duas espadas fortemente. Uma vez nas costas do sujeito, ergueria a wakizashi deixando apontada para o coração e a katana levaria próximo ao pescoço. Não faria mal a ele. Ainda.

━ O que houve aqui? Com aquelas três garotas e o gorducho?

Atenção redobrada agora. Aquele não parecia ser alguém normal. Acho que até estava me arriscando demais. Só que não chegaria a lugar algum retornando por onde vim. Precisava de respostas.

As coisas pareciam bem estranhas.

O sujeito mesmo de costas não se importava comigo.

Era louvável sua postura ou pura tolice.

Contudo, a tensão no ambiente era real.

" Esse desgraçado. O que é ele. "

Irritava-me o fato de eu querer dar um fim nele logo, mas meu corpo parar por ali. Teria ele um espírito tão imponente assim?

━ Tenha mais respeito. Sou uma raposa. Não tenho nenhum parentesco com roedores.

Arqueava os olhos em frustração.

━ Tcs... Droga. No fim foi inútil vir aqui.

Desistia de tentar mata-lo. Deixava a wakizashi cair no chão e embainhava a katana. Observava novamente o monte de cinzas.

━ Não ligo nenhum pouco de ter feito o que fez. Mas não podia ao menos esperar? Não vim por ti, e sim por elas. Fora que aquele imundo teria informações para dar ━ Estava meio puta da vida depois daquilo tudo ━ Saco, humanos são tão egoístas.

Começava sentir aquele calor incomum na sala. Seria um alerta para eu sumir dali?

━ Por acaso não sabe nada sobre duas meretrizes famosas que foram compradas os seus dotes por um filho de um homem do alto governo. Seus nomes eram Kawa e Aka ━ Estava sendo insistente mesmo sentindo aflição. Precisava saber alguma coisa. Não poderia ter sido tudo em vão ━ Só queria saber isso. Deixarei-o em paz.

Se fosse ignorada novamente apenas iria dar de ombros e me retirar do local. Entretanto, sem virar as costas para o sujeito.

Puta merda.

Cada palavra que saia da boca dele.

Era tão inútil que esperar uma resposta.

Dizia nada com nada e num me dava um caminho a seguir.

━ Afinal, por que eles são traidores? ━ Sentia que isso seria apenas mais uma questão ignorada ━ Quer sabe... Você vai ficar com esse teatrinho comigo de novo e me deixar sem nada. Melhor eu ir embora.

Fui saindo dando certa atenção para as moedas. Era tentador, mas ignorei as mesmas. Meu objetivo era coletar informações e não roubar o castelo.

Todavia, quando fui saindo ele citava palavras ameaçadoras. Por um instante pausei os passos e olhei novamente.

━ Apesar da minha inteligência, detesto enigmas. Não vim até aqui por sua causa. Se tens algo a dizer, deveria ser mais direto.

Ele e eu não tinhamos nada o que tratar, mas ele ficava me enrolando. No fim acho que ele queria minha atenção. Onde conseguiria alguém deslumbrante como eu? A diferença era que não estava ali pra lamber bolas de ninguém. Ficar brincando de puxar o saco dos outros era coisa dos humanos.

Aguardei ele falar o que queria. Já era notável que fugir não seria fácil ou possível. E enfrenta-lo seria ainda pior decisão. Restava apenas o diálogo.

Ele parecia bem calmo.

Sabia que tinha a situação sob domínio.

O ditado, "Se correr o bicho pega, e ficar o bicho come", nunca fez tanto sentido que nem agora.

Minha situação era problemática. Não fazia ideia o que iria ocorrer.

E não o bastante, o cara agora lia mentes? Via através das paredes? Por quê raios ele sabia que eu havia matado dois guardas? O cara morto ali fora era culpa obvia.

O problema era que a ameaça ficava eminente. Tentei lidar com jeito mantendo a postura.

━ Rhul... Se eu tivesse matado dois bons guardas, não seria eles quem estariam mortos. Além de que é a primeira vez que uso uma katana ━ É no mínimo vergonhoso alguém perder assim para mim em sua área de combate ━ E não te entendo... Me ameaça por matar aquele ali, sendo que se você desse realmente valor a vida dele, poderia ter evitado a morte do mesmo.

A justificativa dele era algo que eu realmente gostaria de saber agora.

Minhas boca se calava e seu rosto se revelava.

De algum modo sua face parecia que não era a primeira vez que teria visto.

Quem seria aquele homem?

Seus olhos. Terríveis olhos vermelhos.

" Que merda está acontecendo. "

Parei de visualizar seus olhos e lançava minha visão para seus pés. Aquilo não era normal. Suas palavras soavam de um jeito péssimo na qual negava ser tratada mais uma vez daquela forma. Sentindo a dor, ia reagindo a sua frase.

━ Grrrraaaah! ━ Voltava minhas mãos para o tórax. Os dentes ficavam a mostra com uma face de dor. Respirava fundo para conseguir fôlego para expressar o que sentia ━ E retornar a ser uma escrava? Me recuso a passar por isso de novo.

Era angustiante que estaria a um passo de ser abusada mais uma vez por humanos. Este em questão seria pior que naquela vez que era somente uma família com poder aquisitivo e sem nenhum pingo de habilidade. Mesmo eu, uma pobre criatura domada aqueles anos todos, conseguirá me desvencilhar das "correntes" que prendiam não somente meu corpo, mas também minha alma.

O que aconteceria comigo agora que era uma kitsune com o espírito indomável? Me retorcia com a insanidade flamejante que nem mesmo conseguia entender.

━ Arhh! Como arde. Não há fogo e mesmo assim queima. Você... Gr!! É um sacerdote!