Finalizado - Estaca Zero

Não sabia o que tinha acontecido.

Tudo mudou e quando me dei conta, já não estava mais naquela merda de loja.

—Onde estou?

O cheiro era terrível, o que me fazia levar as costas da mão até o nariz.

Olhava para os lados em busca de sabe lá o que. E o que eu via, eram cadáveres.

A principio, me assustei, me afastando rapidamente para trás, olhando ao redor e encontrando mais corpos podres.

— Que inferno de lugar é esse! — Reclamava.

Não fazia sentido nada daquilo.

O susto inicial ia embora, diferente do mal cheiro. Estava acostumada com pilhas de corpos. Minha própria essência maléfica permitia que aquilo fosse "digerido" rapidamente como algo normal.

Quando me deparei, estava sem um único item dos meus pertences.

— Hã? Cadê minhas coisas? Aquele maldito. O que ele fez... — Praguejava.

Enquanto olhava o local, tentava encontrar algo de útil. Uma arma, roupas pra me aquecer, qualquer coisa.

Durante a busca, concentrava meu chakra pra tentar identificar se aquilo tudo não passava de um genjutsu e me livrar daquilo.

Aparentemente aquilo tudo era real e eu não tinha meus pertences, realmente.

—Eu só tinha que ir lá e matar aquele filho da puta. Mas naaah, eu tinha que ir fazer umas comprinhas. Por que eu não nasci macho? Porcaria!

Minha revolta com minha luxuria se fazia presente por alguns segundos. Porém, não o suficiente para me aborrecer mais do que o necessário.

— Certo, parece que estou no amontoado maior. Aquela direção parece levar a algum lugar. Provavelmente pra minha morte, desgraça.

Irritada, segui para o norte afim de ver o que se revelaria no auge oposto da vala.

O odor era péssimo e fazia sentir-me mal.

Um obstáculo temporário, ao menos.

Continuei meu trajeto, descobrindo a frente um lago.

Meus olhos buscavam por mais informação visual. Enquanto meus ouvidos tentavam ouvir algo além dos ruídos que eu mesmo fazia. Meu faro, bem... Impossível lidar com isso no momento.

Ia me aproximando do lago por uma beirada, tomando cuidado para qualquer ameaça.

Ao me deparar com o rio, tive vontade de beber água. Mas...

Não era só o rio que eu via.

Minha mão direita voltava-se para a cintura em busca de um cabo de katana que não jazia mais comigo.

Um movimento involuntário e automático quando sentido que algo de ruim poderia acontecer.

Porém, era somente um urso em sua vida tranquila. Animais não tinham meu ódio gratuito, a não ser que me fizessem mal.

Mantive-me calma, e busquei sair da visão do urso. Observaria a calmaria do rio, esperando que o bicho saísse de lá e voltasse pra sabe deus onde.

O bicho não havia me notado.

Nem mesmo farejando o ar, conseguiu perceber-me. Um alívio.

Ele seguia rumo ao oeste, conforme o rio mantinha seu fluxo.

Refleti sobre aquilo. O que poderia ter chamado sua atenção pra lá? Comida? Sangue? Bom, diversos motivos poderiam ter atraído ele.

Curiosa, também farejei o ar. Era uma raposa e meu faro talvez fosse mais apurado que humanos. Quem sabe eu descobrisse o que o urso farejou.

Não tive sucesso em farejar nada.

Além disso, acabava por sentir repulsa do meu próprio cheiro.

Precisava me limpar e havia um rio logo a minha frente.

Esperava o urso sumir de vez e olhava ao redor para ver se não havia mais nada por ali.

Uma vez sentindo que estava segura, me locomoveria até a beirada do rio, e começaria a me lavar onde houvesse sangue alheio em mim.

Certa força era exigida para remover as manchas de sangue.

Nada muito problemático pra quem já precisou fazer isso muitas vezes.

Porém, não esperava ver o reflexo de alguém na água, ainda mais de uma criança.

Já imaginei que uma criança surgindo ali do nada depois de eu ver uma vala cheio de mortos, não seria algo atrativo.

Tentei não dar tanta atenção pro garoto, e mantendo a guarda alta, fui me dirigindo pra direção oposta do urso. Imagino que se ele farejou algo e seguiu isso, não é o local que eu deseje estar.

Meu caminhar se iniciou.

O inusitado? O moleque também fez lá do outro lado.

Ah saco isso.

Segui meu caminho, mantendo certa atenção com um olhar de canto para cuidar do que o menino era capaz.

Enquanto andava, também mantinha atenção mais a frente, tentando saber pra onde o rio me levaria ou o que pudesse ter dentro da floresta.

Por hora nada de estranho acontecia.

Até que eu tropeçava.

Só faltava eu morrer com um trupicão daqueles.

Que fim de mundo me meti?

Sem muitas forças, ia me levantando devagar.

"Devo estar faminta, mas onde encontrar comida por aqui?"

Comecei a olhar algumas árvores atrás de frutas. O rio seria útil pra pegar peixe, mas sem uma vara de pescar, rede ou qualquer coisa que fosse, seria impossível pra mim.

Minha busca era inútil.

Aquela floresta não tinha nada, além de morte e desespero.

E claro, aquele garoto. O que ele fazia ali e... Espere. Ele falou comigo?

Parei por um instante e olhei o rapaz. Em silêncio devolvia a encarada e respondia sua pergunta.

— É, eu falo. É estranho?