Finalizado - Estaca Zero

Ali caída, permaneci.

A porta se fechou em seguida.

O tom grosseiro do sujeito, já era de se esperar.

— Que mal encarado.

Me coloquei sentada, encostando na porta fechada. Puxava o odre que havia enchido novamente, e tomava a água dele.

— O que eu faço?

Eu não podia entrar, mas estava em um ambiente um pouco mais seguro. Refletiria minhas próximas ações sentada de frente a cabana do sujeito. Quem sabe ele se incomodasse e viesse novamente falar comigo, mesmo pra tentar me espantar.

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A porta se abria enquanto eu refletia.

Meu corpo que estava bem encostado, ia balançando para trás em unisolo.

O movimento era até engraçado, pois estava curvada, e como uma roda, rolei de costa, ficando com a visão de baixo para cima do desconhecido.

Dei um sorrisinho, e brinquei.

— Nossa, que rolão...

Ele parecia irritado comigo ali. Falava em um idioma bizarro bem diferente do que eu estava acostumada.

Me recolhi para frente, voltando meu corpo para o homem, ficando ainda sentada aonde estava.

— Aqui é o Japão, se falar assim, só vou pensar que está afim de mim.

Sabia que ele falava o nihongo por ter tentado fazer-me ir embora antes, então era uma forma de forçar ele a se comunicar direito.

— Moço, eu to com fome e com frio. E sei que você tem muita comida sobrando e uma lareira quentinha. Me deixa descansar um pouco, e não te incomodo mais.

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Cada cena era impagável.

E com persistência, ele finalmente cedia ao diálogo.

— Viu, não foi difícil, foi? — Não conseguia me livrar do sarcasmo com facilidade. — Eu sou a viajante mais bela das estradas e da floresta. E estou com muita, muita, mas muita fome e sem um pedaço de carne pra comer. Estou ensopada precisando me aquecer. E perambulando por aí sem rumo, notei sua cabana e comida que você vai acabar desperdiçando. Achei que seria muito nobre da sua parte se compartilhasse comigo.

Ao terminar de falar, removi o capuz para que pudesse ver melhor meu rosto.

— Entenda que eu não quero causar problemas. Só preciso de um lugar pra ficar por essa noite.

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Ai Kami-sama, temos um altruísta, aqui?

Era tudo que faltava, filosofar no meio da noite naquela situação.

— Você diz isso só porque eu disse que sou bela? Não seria humilde da minha parte saber reconhecer isso em mim e ser sincera, ao invés de ficar dizendo coisas pomposas como, "nem sou tão bonita assim" ou "sou feia", quando na verdade queremos dizer francamente que me acho linda. Hum? — Antes dele responder qualquer coisa, eu complementar. — Digo isso, pois não vejo muita razão para você me julgar como sem humildade, sendo que como você mesmo disse, és um desconhecido, portanto não sabe nada de mim, além do fato de que tenho certeza que sou atraente.

Agora sim deixava ele falar.

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Meu pai, que homem chato.

— Mesmo toda molhadinha você consegue farejar-me? Ui, o que mais esse seu nariz aí pode fazer? Fiquei curiosas, hihi.

Nada como umas frases com duplo sentido pra amenizar as coisas.

— Acho difícil alguém viver a vida inteira sem ser grato a nada. E não se preocupe, eu não sou como vocês que envelhecem. Tenho a eternidade para ser bela como sou.

Ele enrolava, e enrolava cada vez mais enquanto podíamos estar lá dentro se aquecendo.

— Eu acho que você me julga demais pra quem não sabe nada de mim. Seu olfato de caráter não é mérito pra decidir se sou ou não o que tu diz. Se eu de fato sou tão terrível como acredita só olhando, a culpa é de todos vocês. Se acha que não, me convença do contrário lá dentro ao redor da lareira enquanto mordo alguma coisa e te conto porque vocês são o motivo da desgraça da minha vida. Pode ser? O-NE-GA-I?

Agora ele não tinha mais desculpas de eu não ter pedido o tal "por favor".

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Tudo bem, eu sou debochada. Mas...

Qual é... Estava sentada, nem demonstrava risco ou qualquer coisa do tipo.

E ele me ataca daquela forma.

A lâmina do machado passava em meu rosto, exalando energia mágica de mim. Meu corpo rolava no chão enquanto minha mão ia até a face por reação involuntária.

Ao mesmo tempo já ia aproveitando o impulso e me levantando com a espada na mão e olhando com raiva para o mesmo. Era notória a fúria em meus olhos.

Desejava ataca-lo naquele instante. Mas as palavras dele remoeram em minha mente.

Mudei minha postura totalmente defensiva e meu semblante irritada, para uma neutra e de decepção. Estalei os dedos e lancei-lhe genjutsu mostrando como foi meu passado desde os primórdios.


A pequena kitsune escravizada por nada, passando por tudo aquilo, o ódio sendo gerado durante anos e mais anos até que finalmente pude me libertar.

Logo mais ele poderia ver o sujeito que me salvou após fugir daquele lugar que fiquei escravizada, o tempo que passei com ele e o que ocorreu após sua morte, e novamente humanos me causando problemas.

Então a época com as amigas que procurava atualmente pelos fatos que ocorreram após ficar um tempo com elas. E assim por diante, como com Ryuzaki me escravizando. Ele poderia ver o ciclo de ódio em tão pouco tempo para alguém bem mais jovem que ele, provavelmente.

Enfim, o genjutsu se encerraria comigo ainda aonde estava. Com o tom de voz seco e de decepção, desabafei.

— Depois eu que sou o demônio. Tcs... Achei que você fosse diferente. — Me virei de lado, e comecei a caminhar lentamente sem rumo. — Pode ficar com sua comida, perdi a fome.

Jutsu:

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Quão tolo ele poderia ser?

Eu... Mimada? Peninha de mim?

— Hahaaha... — A gargalhada ressoava naquela noite.

Aquilo me tirava risadas. Ele tinha visto somente o que eu queria que visse. Não sabia o que eu fiz pra reverter minha situação.

Não tinha muito pra onde ir. Me afastei um pouco, ainda mantendo visão da cabana. Cacei alguma árvore por ali que pudesse me abrigar e descansar.

Por alguma razão queria ficar de olho naquele sujeito e descobrir quem era ele. Não parecia daqui, e quem sabe ele tinha alguma ligação com os homens daquela vila.

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Não que resolvesse muita coisa, mas a chuva diminuía.

O carvalho encontrado parecia um lugar bom para ficar.

— Melhor do que nada... — Resmunguei.

Restava ficar ali por algum tempo, vigiando a cabana de longe e esperando amanhecer para ficar mais fácil encontrar comida.

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Naquele fim de mundo, qualquer lugar que eu fosse, seria a mesma coisa.

Chuva, garoa, frio, etc...

Ao menos naquelas raízes grandes da árvore, podia ter alguma proteção e evitar correntes de vento.

Permanecia lá aguardando o dia raiar e a chuva parar.

— O tempo parece não andar nunca. — Resmunguei novamente.

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Bom, não seria tão cedo que essa maldita chuva passaria.

Talvez fosse melhor caçar algo pra fazer e movimentar o corpo, ao menos me aqueceria.

— Vou olhar melhor aquela maldita vila.. — Decidida, me levantei de onde estava.

Começava a seguir rumo a vila que eu havia fugi anteriormente.

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